quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Porquê Turismo Ecológico?



O Turismo é uma forma de consumo. Poucas vezes pensamos nele como tal, mas a verdade é óbvia e incontornável: quando viajamos, andamos de avião, de barco ou de carro, quando dormimos num hotel, visitamos um monumento ou parque natural, quando praticamos desportos aquáticos ou as várias actividades de lazer que se nos oferecem, estamos a consumir todo o tipo de recursos! Estamos a causar um impacto na natureza e naqueles que mais directamente dela dependem: os animais selvagens. As realidades de mercado prevêem, através de uma lógica de consumo tradicional, que os produtos sejam constantemente repostos para que os clientes possam sucessivamente comprá-los. Este fenómeno, normalmente conhecido por “reposição de stocks”, é impossível de ocorrer com a natureza. Este “produto” é, de facto, bem mais nobre do que uma mera garrafa de refrigerante ou embalagem de detergente. Pelo simples facto de que a natureza é irreproduzível: uma espécie animal que se extingue não mais se repete, deixando de existir para todo sempre. Nesta óptica, e com o aumento progressivo quer dos fabricantes de produtos turísticos quer dos seus consumidores, vem-se desenvolvendo um novo sector da indústria do lazer onde impera uma maior ligação ao meio ambiente: é o turismo ecológico. Aqui (excluindo os casos em que o termo “ecológico” é utilizado como mera arma de marketing) existe uma preocupação efectiva e concretizada em regulamentos, práticas, infra-estruturas, etc., as quais garantem o menor impacto na natureza ao redor da unidade ou serviço eco-turístico. Mas se olharmos o quadro mais global e numa perspectiva de sustentabilidade da actividade turística a (não assim tão) longo prazo, a verdade é que todo o turismo tem que ser ecológico. Todas as formas de turismo deverão garantir que a experiência de lazer que é a viagem (qualquer viagem) possa ser igualmente apreciada pelas gerações vindouras.


Partindo deste princípio, muito se tem falado sobre a importância do turismo ecológico para a economia dos estados e dos países que possuem, por dádiva da natureza, verdadeiros paraísos terrestres com belas paisagens, animais exóticos e/ou um ritmo de vida muito tranquilo e aprazível. De facto, seria um grave erro não aproveitar tais recursos naturais como fonte de receitas e de desenvolvimento para as populações locais, desde que, ao mesmo tempo, se promova a preservação das suas tradições e dos seus costumes, pois tais populações sempre sofrem alguma forma de influência, nem sempre positiva, da cultura e dos hábitos dos visitantes.


Mas não é só a cultura desses povos que vem sofrendo o impacto da presença cada vez maior e desorganizada dos turistas, sejam eles mais ou menos ecológicos. Também a natureza, que sempre desempenhou um papel preponderante na sedução do viajante, está sendo desprezada e encarada como apenas mais um produto de consumo. Aquela que é a causa e origem última de grande parte do Turismo, tem-se tornado um alvo constante de danos colaterais provocados pela chamada “Indústria do Lazer”. O homem contemporâneo sente a necessidade de consumir o seu tempo livre de maneira frenética e aleatória, resultando numa prática irresponsável do fenómeno turístico. Mas se o turismo é uma ameaça, o turismo é também a salvação. Só protege quem conhece. Quem sente como seu. E essa é a grande benesse do viajante. O seu círculo de afectos alarga-se, o seu sentimento de pertença multiplica-se, o seu instinto protector expande-se. É esse alargar de horizontes ambientais que pode, e deve, servir como fundamento e motivação para uma mudança necessária da oferta turística existente hoje em dia, procurando desta forma sensibilizar cada pessoa, cada potencial turista, para as prioridades ambientais patentes no nosso tempo, e para as necessárias mudanças de mentalidade da nossa sociedade.


É tido como verdadeira a ideia de que a natureza é de todos, mas para realmente assim o ser é necessária uma consciência colectiva que o reconheça e o admita, sendo, para mim, esse o primeiro e decisivo passo num caminho que desejavelmente terminará numa efectiva protecção ambiental à escala global.

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