quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O ambiente e a crise

Estimados colegas,

Seguindo ainda o tema de debate introduzido pela colega, Gisela Andrade, partilho convosco esta notícia que, na minha opinião, responde algumas das dúvidas levantadas pela colega. Espero, que a mesma seja do interesse de todos.

"Já cá se sabia – para muitos, a protecção do ambiente é um incómodo, um obstáculo à ultrapassagem da crise económica.

Apesar das juras em contrário, é notória, infelizmente, a subalternização dos problemas ambientais face à necessidade de "desenvolver", de fomentar "investimento", de encontrar alavancas de "crescimento". Esse dilema é clássico, existe desde que as primeiras ideias de conservação da natureza surgiram, desde que apareceram contestações diversas ao modelo económico dominante – o adversário sempre foi aquele muro de certezas que significa "sim, isso do Ambiente é muito louvável, mas deixem-nos primeiro tratar das coisas importantes".

Perspectiva errada. O Ambiente não é algo de decorativo que ajude os macros – decisores a aliviar a consciência pesada. É uma questão de sobrevivência, de qualidade, de bom-senso.

Que hoje se sinta um retorno a uma concepção cavernícola do Ambiente, eis o que devemos lamentar – ao arrepio da consciência global que atravessa o Mundo e põe em questão os dogmas fragilizados de "desenvolvimentismo".

Esse menosprezo manifesta-se também nos órgãos de soberania e na administração – tão contagiosa é tal atitude que a assumem os próprios, cuja tarefa é (devia ser) defender a Ambiente.

Temos assim um ministério do Ambiente que parece pedir desculpa por existir e outros ministérios para quem a existência do Ambiente parece não ser coisa provada.

Se os grandes empreendimentos fatalmente calham instalados em solos de reserva agrícola e ecológica se não se consegue cumprir o que é compromisso do país no tocante às emissões de gases de efeito de estufa; se o litoral recua sem que medidas de excepção sejam impostas enquanto é tempo; se o ordenamento do território patina ao sabor da voracidade de construtores e autarcas; se não há política de conservação da natureza digna desse nome; bom, digamos que alguma coisa falhou estrondosamente. E em vão culparemos apenas este Governo, ou outro, que o problema vem de longe e é estrutural.

Os interesses do costume dizem – agora, em crise económica, o país não pode parar!

Claro que o ambiente não pode ser o único tema em consideração. Mas uma política ambiental forte e activa, coordenada com uma ideia de conjunto para o país, poderia ser um factor crucial de desenvolvimento.

Poluição é ineficiência. Dependência energética dos combustíveis fósseis é catástrofe financeira. Destruição do território e da paisagem é condenar o turismo de que precisamos. Construir em mancha de óleo pelas periferias fora, agrava os problemas urbanos e condena a qualidade de vida das pessoas. O desperdício energético polui mais e gasta sem utilidade. Betonar o litoral põe em causa a segurança das pessoas e favorece o avanço do mar. A água, a biodiversidade, o solo arável, são capitais preciosos e sê-lo-ão mais cada dia que passa.

Por isso, o ideal seria aproveitarmos a crise ambiental (a par da conjuntural crise económica) que se manifesta, como uma oportunidade de mudança, de criação, de inovação tanto tecnológica como cultural e social. Fazer da necessidade de salvar os equilíbrios planetários um ponto de partida – eficiência energética e produtiva, economia "descarbonizada" e solidária, revalorização da terra e da paisagem, energias renováveis e descentralizadas, construção e urbanismo sustentáveis e transportes não poluentes, tratamento e uso racional da água e reciclagem de materiais. Muito para fazer, pistas para um desenvolvimento que não hipoteque o futuro.

Ao nível local e regional, muito pode ser feito neste sentido. Talvez valha a pena tocar nesse ponto, em próxima crónica."

Da autoria de:
blguimaraes@clix.pt

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