domingo, 28 de outubro de 2007

Prémio Nobel da Paz 2007 para Al Gore (o ambiente como bem jurídico da paz?)

Caros colegas, venho propor a discussão de um tema que é de toda a actualidade, e penso que de importante valor político e ambiental, ou seja a conquista do prémio Nobel da Paz pelo ex-candidato ás presidenciais nos Estados Unidos da América em 2000, Al Gore.
Como é do conhecimento geral, Al Gore foi derrotado de forma “polémica” nas eleições à corrida da “casa branca” em 2000, tendo inclusivamente ganho no número de votos expressos nas urnas, mas não no número de estados, ficando célebre a votação do estado de Flórida, que apesar do método computadorizado de escrutínio dos votos, e para mal grado do “país do desenvolvimento”, só ao fim de vários dias é que se soube quem era o vencedor.
Para lá das questões políticas de fundo, como sejam a possível consciencialização de que a democracia americana tem de ser reformulada, e que a máxima do “one man one vote” não passa de uma “fotografia amarelecida no álbum dos parentes mortos”, há importantes alterações que esta atribuição possa vir a repercutir a nível nacional e internacional.
O ex-vice-presidente dos EUA Al Gore e o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês) foram os vencedores por alertarem o mundo civil e político através de uma longa metragem, das ameaças que estão a ser feitas ao ambiente, e claro á humanidade, tendo o comité do Nobel da Paz destacado os esforços de ambos para "construir e divulgar um maior conhecimento sobre a mudança climática causada pelo homem e por fixar a base das medidas que são necessárias para resistir a essa crise".
Al Gore destacou nos rescaldos da entrega deste prémio, que os problemas ambientais são na actualidade “ the most dangerous challenge we've ever faced”, voltando no final a destacar que “I will be doing everything I can to try to understand how to best use the honour and recognition of this award as a way of speeding up the change in awareness and the change in urgency," deixando no ar a e no “silêncio dos deuses” a questão de uma possível candidatura ás eleições presidenciais norte-americanas em 2008, que se adivinha pouco provável.
A meu ver, este prémio vem criar algumas consequências que são de referir, em primeiro lugar, o facto de atribuir um lugar de destaque ás questões ecológicas, ao ponto de transparecer que o ambiente está umbilicalmente ligado á defesa da paz, que deixa de ser vista unicamente como defesa de guerras convencionais e conflitos armados, para adquirir uma dimensão ambiental universal (Guerra contra o terrorismo ambiental???).
Por outro lado vem induzir uma pressão muito forte no governo Bush , que para além de combaterem “terroristas com terrorismo” e por esse facto estarem á luz da opinião pública nacional e internacional ausente de credibilidade, vêem um dos seus maiores adversário políticos ( Al Gore ) crescer de popularidade, ganhando um prémio Nobel precisamente na área onde o governo Bush é mais fortemente criticado, ou seja, no ambiente e na rejeição em assinar e cumprir o protocolo de Kyoto.
Tal pressão, poderá obrigar (e por mera gestão de imagem) o actual Presidente Bush a cumprir com o protocolo, sob pena do partido Républicano perder mais terreno para a corrida a Washington já no próximo ano ( Bush já não será candidato mas o seu partido poderá sofrer as consequências na votação). Demonstra-se assim, que estas questões são actualmente fulcrais, e desde os anos 70s que cada vez mais assumem uma dimensão politica mundial e não sectorial, ou de índole fanática e radical.
Resta referir que quanto a mim, este “award” entregue a Al Gore, foi uma jogada política exemplar da Europa ao governo Americano, que na ausência de meios diplomáticos e económicos suficientes para dissuadir a administração de Washington a ceder no que ás questões ambientais diz respeito, utilizou este expediente que deverá ter efeitos práticos possivelmente mais importantes e significativos que qualquer estratégia diplomática.



João Guerra

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