terça-feira, 20 de novembro de 2007

Comentário ao excerto de FERNANDO ARAÚJO, publicado neste blog no dia 17 de Outubro de 2007.

Embora julgue que os defensores de um reconhecimento de direitos aos não-humanos não pretendam defender o direito de voto para as galinhas e patos, uma construção legal com essa amplitude não é na minha opinião aceitável ou porventura viável.

Em forma de comentário à afirmação de FERNANDO ARAÚJO, por muita boa vontade que a Humanidade tivesse na atribuição dos ditos direitos, é falacioso salientar que uma razão de ser da mesma atribuição estaria ‘mais que não seja’ contemplada, pois seria evidente uma ‘crescente consciencialização’ dos temas do bem-estar animal e do equilíbrio ambiental.

Julgo que essa consciencialização tanto ao nível de bem-estar animal e sobretudo em matéria de equilíbrio ambiental já está a ser conseguida e alicerçada, não sendo necessário a defesa integral e equivalente entre espécies para a sua prossecução.

Já é notório, tanto nas actividades da Comissão Europeia, como na sua repercussão nacional neste domínio, um reconhecimento de que os animais são seres dotados de sensibilidade e logo passíveis de um certo respeito, mas não de uma forma exacerbada e ilimitada.

Há em certa medida uma confusão que é feita regularmente, e nesta afirmação julgo não ser excepção, entre direitos dos animais (ou não humanos, como são referidos na citação) e o bem-estar animal.

Enquanto esta última noção admite que os animais sejam utilizados pelos humanos como meios para atingir os fins desejados, mas defendendo que sejam dadas melhores condições aos animais, tal como as condições mínimas de bem-estar (i.e. os animais abatidos para consumo humano sejam mortos de foram mais humana), na filosofia dos direitos dos animais, não se justifica de todo que os animais sejam abatidos para consumo humano.

Digo filosofia pois a sua construção doutrinária teve origem no início dos anos 70 do século passado através de uma corrente filosófica que cunhou o termo de especismo, ou seja, a discriminação especista pressupõe que os interesses de um indivíduo são de menor importância pelo mero feito de pertencer a uma determinada espécie.

De acordo com a igual consideração de interesses, qualquer que seja a espécie, os interesses semelhantes devem ser respeitados.

Assim sendo, inferir dor num animal sem se preocupar com isso, é ignorar o princípio básico da igualdade, que parte da premissa da igual consideração de interesses.

Assim sendo, não posso pactuar com construções deste género, que ao reverter a ordem com que é lida a afirmação resultaria num estado vegan totalitário, querendo alterar a ordem «conceptual das próprias ‘ciências humanas’».

Infelizmente para muitos não posso professar a perspectiva de Pierre Weil ou de Leo Tolstoy quando dizem respectivamente que «não comer carne significa muito mais para mim que uma simples defesa do meu organismo; é um gesto simbólico da minha vontade de viver em harmonia com a natureza. O homem precisa de um novo tipo de relação com a natureza, uma relação que seja de integração em vez de domínio, uma relação de pertencer a ela em vez de possui-la. Não comer carne simboliza respeito pela vida universal.» ou «se o homem aspira sinceramente a viver uma vida real, a sua primeira decisão deverá ser abster-se de comer carne e não matar nenhum animal para comer.».

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